terça-feira, junho 27, 2006

POESIAS:

Esta poesia que me encanta e emociona, foi escrita por Teodomiro Alberto A.Leite de Vasconcelos, um africano que, ao morrer disse que gostaria de ter publicado um livro com o título "Resumos, Insumos e dores emergentes", alguns amigos uniram-se e conseguiram realizar o que fora o sonho do poeta.

Canto do Verbo em busca da forma

Eu presido a todos os enganos

os do céu os da terra há tantos anos

que nem o tempo os lembra

Antes do mar fui voo

Antes do sal fui mar e sede antes da água fresca

Antes do verso eu fui a poesia

Eu sou antes de Deus e do universo

Estando antes eu nunca fui ontem

e sendo a tudo preso nunca fui refém

nem de mim mesmo porque a minha fome

não tem distância horizonte não tem nome

Sempre que me contam sou inumerável

sempre que me caçam sou invulnerável

Eu nunca estou no pé e nunca estou no passo

a minha dimensão é outra sou o compasso cósmico

a que palpitam todas as galáxias

e a que se geram flores nos ramos das acácias

Não fui planeado nem projecto

Não sou vontade

Nas letras de prisão lêem-me liberdade

não a minha a tua a deles ou a de todos

Eu sou a liberdade do desejo

Do desejo dos lodos e das aves dos rios

dos homens e mulheres

de todo o espaço de todas as coisas

de todos os seres

Por isso eu presido a todos os enganos

os do céu os da terra há tantos anos

que nem o tempo os lembra

Sou a razão de todas as derrotas

o coração da mágoa as mãos do desespero

Eu sempre estou e permaneço e espero

desde o caos e canto o refazer do desejo

na sua liberdade como lábios no beijo

Em mim tudo recomeça grão a grão ponto a ponto peça a peça

mão a mão sol a sol segundo a segundo

porque comigo recomeça o mundo

até que tudo seja o que não vejo

até que o mundo seja o do desejo"

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Cecília Meireles, maravilhosa!

Canção de alta noite

Alta noite, lua quieta,

muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.

O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passona noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente Deus que a noite seja andada.

Porque o poeta, indiferente,anda por andar - somente.

Não necessita de nada.

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