domingo, julho 30, 2006

Na trilha do grau zero das culturas...Na seqüência: A.Warhol, W. Benjamin, Cícero e A.Malraux

Quando Andy Warhol falou o sobre os minutos de fama e trouxe a arte para o pop, misturando sabão , sopa, Lênin, ícones de Hollywood e Che Guevara, estava em meio à contra-cultura (Henry David Thoreau, que o diga) nos mostrando, à moda, o que W.Benjamin previra e Adorno, menos otimista ( não em oposição a pessimismo) chamou de “industria cultural”.
O cinema, vídeo, dvd, computador,internet, cd, mp3, mp 4. Qualquer um de nós faz o seu à moda, a nossa moda. Tomara que não esteja misturando com a idéia do grau zero das culturas. A arte , verdade, mimese e Aristóteles? A ficção e a história aproximam-se? Qualquer objeto, coisa, manifestação pode ser arte? Em uma máquina do tempo, poderíamos ter assistido a Cícero em um de seus Discursos:
“... quam multas imagines virorum fortissimorum scriptores et graeci et latini reliquerunt nobis expressas, nom solum ad intuendum, verum etiam ad imitandum! “
‘...quão numerosas imagens de varões fortíssimos os escritores tanto gregos como latinos nos deixaram expressas, não só para vermos, mas também para imitarmos!”
Antes de Cícero, na tradição chinesa, copiar é “homenagem amorosa ao artista original”.
Esta "homenagem" torna-se compreensível na cidades dos pintores, Dafen (China), onde ateliês com linhas de produção e montagem, são “fábricas de arte”. De lá saem T.Lautrec, Picasso, Gauguin, Van Gogh (este último é o carro-chefe dos russos). Os ateliês, recebem encomendas do mundo inteiro .Um Matisse por 15 euros, Rembrandt, 30 euros. Existem lotes “impressionistas” vendidos por peso.
Tudo é pintado por encomenda: óleo sobre tela, acrílico, as molduras com pátina, usa-se ainda técnicas de envelhecimento da tela. Existe uma “fábrica de monalisas”, das mais prósperas. Os artistas são diplomados em liceus e os chefes são , em geral, ex-professores de desenho.Todos trabalham até 11h por dia e dormem nas fábricas. Podem ganhar até 10 euros , o dobro da diária de um operário comum. Retomando à idéia do grau zero das culturas, a tentativa do Quai Branly, em Paris, é a do pensamento único “todos os objetos das civilizações passam a ser assimilados a obras de arte” . Acho que é a “materialização” do que André Malraux chamou de musée imaginaire, onde a obra não é catalogada, descrita, tachada e não receberia nomenclaturas. Habita em nós a partir do momento em que temos contato. Não tendo ainda uma “inclusão” histórica, enquanto atemporal. Em meio a essas idéias sobre a arte, a reprodução e a conservação de sua “aura no presente e para o futuro” penso no que Fernando Báez escreveu sobre a destruição dos livros através proibições, incêndios , catástrofes naturais, ditaduras, etc, como uma separação física com a memória. O curioso é que Baéz diz “não são os ignorantes que destroem livros. São quase sempre intelectuais.”
E cita alguns: Nabokov, Descartes, Hume e... Platão!

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